Por que 6 em cada 10 empresas fecham em 5 anos: o papel de um método de gestão estruturada para resultados empresariais
Empreender com método é a única alternativa viável para que os resultados reais possam ser obtidos. Esse não é o caso de seis em cada dez empresas brasileiras não completam cinco anos de existência. O dado, divulgado pelo IBGE em dezembro de 2024, revela uma realidade que vai além da crise econômica: a maioria dos negócios falha não por falta de demanda ou qualidade do produto, mas por deficiências estruturais de gestão.
O cenário empresarial brasileiro em números
Os dados recentes sobre o ecossistema empreendedor brasileiro revelam um paradoxo: enquanto o país mantém alta taxa de abertura de empresas, a mortalidade empresarial permanece crítica.
Indicadores de 2024
- Recuperações judiciais em recorde histórico: O Brasil registrou 2.273 pedidos de recuperação judicial em 2024, o maior número desde o início da série histórica em 2005 — um aumento de 61,8% em relação a 2023, segundo a Serasa Experian.
- Micro e pequenas empresas lideram a crise: Das recuperações judiciais solicitadas, 1.676 partiram de micro e pequenas empresas, representando alta de 78,4% comparado ao ano anterior.
- Falências em alta: O número de falências cresceu 50% em um ano, conforme levantamento da Serasa Experian de novembro de 2024.
- 90% das PMEs em dificuldade financeira: Pesquisa do Instituto Locomotiva aponta que nove em cada dez pequenas e médias empresas enfrentam problemas financeiros, sendo a ausência de gestão estruturada a principal causa identificada.
A relevância econômica das PMEs
Apesar dos desafios, as pequenas e médias empresas constituem a espinha dorsal da economia nacional:
- Representam 97% do total de empresas do país
- Respondem por 27% do PIB brasileiro
- Em escala global, PMEs correspondem a 90% dos negócios e mais de 50% dos empregos
Esses números evidenciam que a mortalidade empresarial não é apenas uma questão individual — trata-se de um problema macroeconômico que afeta emprego, renda e desenvolvimento regional.
A armadilha da gestão intuitiva
A pesquisa do Instituto Locomotiva identificou três fatores recorrentes entre empresas em crise: falta de controle de caixa, planejamento deficiente e decisões tomadas sem suporte técnico-contábil. Esses elementos apontam para um padrão comum: a dependência excessiva da intuição do empreendedor.
Por que a intuição falha como modelo de gestão
A intuição desempenha papel fundamental na identificação de oportunidades e na decisão de empreender. No entanto, estudos sistemáticos sobre fatores críticos de sucesso em PMEs — como a revisão PRISMA publicada em 2025 no Future Business Journal — demonstram que a gestão intuitiva apresenta limitações estruturais:
1. Ausência de replicabilidade
Decisões baseadas em intuição não geram processos documentados. Quando um resultado positivo ocorre, não há método para reproduzi-lo sistematicamente. A empresa fica refém de acertos esporádicos.
2. Concentração de conhecimento
Negócios geridos intuitivamente centralizam informações críticas no proprietário. Essa dependência impede a delegação eficaz, limita o crescimento e cria vulnerabilidade operacional em casos de afastamento do gestor.
3. Viés de confirmação
A intuição tende a direcionar atenção para áreas de competência do empreendedor. Um gestor com perfil comercial pode negligenciar controles financeiros; um técnico pode subestimar a importância do marketing. Essa “cegueira setorial” compromete o equilíbrio organizacional.
4. Incapacidade de escala
Modelos intuitivos funcionam em operações de pequeno porte. À medida que a empresa cresce, a complexidade excede a capacidade cognitiva individual, e a ausência de processos estruturados gera gargalos operacionais.
Fatores críticos de sucesso em PMEs: o que a pesquisa indica
A revisão sistemática de literatura conduzida por Malesu e Syrovátka (2025), que analisou 72 publicações científicas sobre desempenho de PMEs, identificou nove fatores determinantes para o sucesso empresarial:
- Características empreendedoras: competências de liderança e tomada de decisão
- Disponibilidade de recursos financeiros: capital de giro e acesso a crédito
- Networking: relacionamentos estratégicos com stakeholders
- Adoção de tecnologia: digitalização de processos e operações
- Planejamento estratégico: definição de objetivos e rotas de execução
- Práticas de gestão de pessoas: recrutamento, desenvolvimento e retenção
- Fatores empresariais: estrutura organizacional e governança
- Orientação ao cliente e reputação de marca: foco no mercado-alvo
- Suporte governamental: acesso a políticas públicas e incentivos
Esses fatores convergem para uma conclusão: empresas que adotam práticas formais de gestão apresentam desempenho significativamente superior às que operam de forma intuitiva.
Metodologias de gestão estruturada: a abordagem dos 9 P’s
Entre as metodologias disponíveis para estruturação de pequenas e médias empresas, a GAIDITS propõe uma visão sistêmica baseada em nove pilares interdependentes — os chamados 9 P’s.
Diferentemente do modelo tradicional dos 4 P’s do marketing (Produto, Preço, Praça e Promoção), essa abordagem integra dimensões operacionais, financeiras e estratégicas:
| Pilar | Foco Principal |
|---|---|
| Produto | Adequação da solução às necessidades reais do mercado |
| Preço | Precificação baseada em custos, margem e posicionamento |
| Praça | Canais de distribuição e acessibilidade ao cliente |
| Promoção | Comunicação efetiva com decisores e influenciadores |
| Pessoas | Estrutura de equipe, liderança e desenvolvimento |
| Planejamento Financeiro | Separação PF/PJ, gestão de caixa e reservas |
| Planejamento Estratégico | Análise competitiva e plano de mercado |
| Processos | Documentação de rotinas e redução de dependência individual |
| Progresso | Visão de longo prazo, governança e sustentabilidade |
Aplicação prática: o diagnóstico como ponto de partida
A implementação de qualquer metodologia de gestão exige um diagnóstico inicial que avalie:
- Capacidade do gestor: disponibilidade, saúde financeira e preparo técnico
- Ambiente competitivo: mapeamento de concorrentes e dinâmicas de mercado
- Perfil do cliente: distinção entre usuário final e decisor de compra
- Infraestrutura operacional: capacidade de absorver crescimento de demanda
Alberto Ozolins, especialista em gestão empresarial e desenvolvedor da metodologia GAIDITS, utiliza uma analogia para explicar a função do diagnóstico estruturado:
“Imagine pilotar em meio a uma tempestade sem instrumentos, apenas olhando pela janela. É isso que o empresário faz quando não tem método. Ele não sabe quanto tempo de combustível (caixa) tem, não sabe a altitude real (lucro) e não vê a montanha à frente (concorrência). A metodologia é o que traz os instrumentos para a cabine.”
Implicações para o empreendedor brasileiro
O ambiente de negócios brasileiro apresenta desafios específicos que amplificam a necessidade de gestão estruturada:
- Complexidade tributária: a reforma tributária prevista para 2026 exigirá adaptações na formação de preços e no fluxo de caixa
- Custo de crédito elevado: com a Selic em patamares restritivos, o acesso a capital de giro torna-se mais caro e seletivo
- Volatilidade econômica: oscilações cambiais e inflacionárias demandam planejamento financeiro robusto
Nesse contexto, a adoção de metodologias de gestão deixa de ser diferencial competitivo e passa a ser requisito de sobrevivência.
Conclusão
Os dados de 2024 confirmam uma tendência persistente: a maioria das empresas brasileiras fecha por deficiências gerenciais, não por falta de mercado ou qualidade de produto. A taxa de mortalidade empresarial — com seis em cada dez negócios encerrando atividades antes do quinto ano — representa não apenas perdas individuais, mas um obstáculo ao desenvolvimento econômico nacional.
A transição da gestão intuitiva para modelos estruturados não elimina a importância da experiência do empreendedor. Ao contrário, potencializa essa experiência ao fornecer instrumentos de análise, monitoramento e correção de rota.
Para empresas que buscam sair do ciclo de esforço sem resultado, o primeiro passo é reconhecer que metodologia não é burocracia — é infraestrutura de crescimento.
Perguntas frequentes (FAQ)
Perguntas frequentes (FAQ)
Por que tantas empresas fecham nos primeiros anos?
Falta de planejamento financeiro, ausência de processos, tomada de decisão sem análise e dificuldade de acesso a crédito. Segundo o IBGE, seis em cada dez empresas não completam cinco anos; segundo o Instituto Locomotiva, 90% das PMEs enfrentam problemas financeiros diretamente ligados à falta de gestão.
Qual a diferença entre gestão intuitiva e gestão estruturada?
A intuitiva depende da percepção individual e não gera processos replicáveis. A estruturada usa métricas, controles e rotinas claras que permitem delegação, previsibilidade e escalabilidade.
Como saber se minha empresa precisa estruturar a gestão?
Alguns sinais:
- faturamento estagnado mesmo com mais esforço
- dependência total do dono
- margem e custos “no achismo”
- dificuldade de delegar
- operação que trava quando o dono se ausenta
Gestão estruturada funciona para empresas pequenas?
Sim. A literatura acadêmica mostra que planejamento estratégico, gestão financeira e processos formais aumentam a performance de PMEs em diversos setores.
Qual o primeiro passo?
Um diagnóstico empresarial completo: caixa, margens, concorrência, capacidade operacional e perfil do cliente. Sem isso, qualquer metodologia fica apoiada em terreno instável.
Artigo atualizado com dados de IBGE (2024), Serasa Experian (2024/2025), Instituto Locomotiva e revisões sistemáticas de literatura acadêmica sobre gestão de PMEs.




